Responsabilidade social das Igrejas Evangélicas diante da dependência das drogas
Desde os primórdios da Civilização a humanidade conviveu com o uso de drogas, tanto em ritos religiosos como mecanismo de alívio da dor ou mesmo para fins medicinais, extraída a partir de elementos naturais e com o passar dos anos, a produção de drogas sintéticas que atuam no Sistema Nervoso Central (SNC). Há registros históricos de uso de Cannabis sativa (maconha) 450 a.C. no Império Romano, 2000 a.C. na China e 2300 na índia. Em todos esses casos, era usada como fármaco para problemas de saúde. Os cogumelos alucinógenos datam de 500 a.C. em El Salvador, Guatemala e México. Os chás alucinógenos são cultivados e consumidos por índios da bacia amazônica há 4000 anos.
“Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), droga é qualquer substância não produzida pelo organismo que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas, produzindo alterações em seu funcionamento” (Nicastri, 2006), dependendo do modo que é utilizado pode gerar efeitos bons ou ruins nos seres humanos”
A legislação brasileira classifica as drogas como LÍCITAS OU ILÍCITAS.
LÍCITAS: “São aquelas comercializadas de forma legal, podendo ou não estar submetidas a algum tipo de restrição. Como por exemplo, álcool (venda proibida a menores de 18 anos) e alguns medicamentos que só podem ser adquiridos por meio de prescrição médica especial” (Nicastri, 2006). Exemplos: Bebidas alcoólicas, Tabaco, Café, Chocolates, Refrigerantes, Analgésicos, Calmantes e Anfetaminas, Esteroides anabolizantes.
ILÍCITAS: Proibidas por lei. Exemplos: Cocaína / Crack, Maconha, LSD, Heroína Ecstasy e outras.
Em mundo todo, a política de Guerra às drogas se mostrou um fracasso retumbante. O resultado foram milhões de pessoas mortas, famílias destruídas e encarceramento em massa. A repressão só fez aumentar o número de usuários, de traficantes e a variedade de drogas sintéticas se proliferam como nunca. O poder público ainda não conseguiu encontrar alternativas eficazes para o enfrentamento dessa questão e muitas vezes utiliza da repressão e criminalização dos usuários como tentativa de dar alguma resposta para a sociedade. Nesse contexto, as Igrejas representam uma possibilidade real de resgate da dignidade, amor, respeito e a reintegração ao convívio familiar.
Ainda que as políticas de redução de danos tenham se mostrado como importantes ferramentas no tratamento de usuários problemáticos, as comunidades terapêuticas tem se mostrado como uma saída viável para aqueles que desejam ou necessitam de abstinência total.
Os recentes acontecimentos na região do bairro da luz, vulgarmente conhecida como cracolândia, tem levantado o debate no país sobre as políticas para usuários de álcool e outras drogas. O Processo de retirada dos usuários do fluxo da Rua Helvetia com a Alameda Dino Bueno tem suscitado dúvidas quanto a sua eficácia por parte de especialistas, dos técnicos da saúde e da assistência e principalmente das igrejas evangélicas que realizam um trabalho há anos e já estabeleceu um vínculo afetivo e de confiança com os usuários. Os principais programas voltados para usuários de drogas contam a participação de entidades ligas às Igrejas: o Programa Recomeço, do governo do Estado de São Paulo e o Redenção, da Prefeitura (criado recentemente pelo prefeito João Doria).
Todos os dias, um batalhão de centenas de irmãos, jovens, pastores e missionários dedicam seus talentos para atenção aos moradores em situação de rua, usuários de drogas, crianças e adolescentes em situação de risco, travestis e prostitutas na região da cracolândia. Utilizam como principal ferramenta a Bíblia, como forma de terapia e aconselhamento, pois ela comunica de forma eficaz os valores, costumes e ajuda no processo de orientação dos diversos problemas do cotidiano.
A atuação das Igrejas não ocorre apenas no território. Muitas delas gerenciam as Comunidades Terapêuticas, regulamentadas pelo Conselho Nacional de Drogas (CONAD), que realizam o acolhimento de pessoas, em caráter voluntário, com problemas associados ao uso nocivo ou dependência de substância psicoativa, e passaram a integrar o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD). O poder público reconhece as Igrejas como parceiras importantes no enfrentamento dessa questão e sabe que ela é fundamental para o equilíbrio social, utilizando-se da espiritualidade e dos ensinamentos do Mestre Jesus como instrumentos eficazes na promoção da saúde, da dignidade humana e da reinserção no convívio familiar, pois o problema das drogas é uma questão de saúde pública e não meramente uma questão moral.
Portanto, ao atuar na terapia de usuários de drogas, a Igreja reforça seus conceitos em relação à sua missão no mundo ao inserir em sua agenda eclesial as demandas político-sociais, tendo a Palavra de Deus como base e a comunidade evangélica como mediadora entre o Poder Público e as políticas sociais, Considerando que a Igreja é uma comunidade que atua na prevenção e promoção saúde integral e ao resgate dos usuários de drogas.
Nesse diapasão é importante considerar que a inclusão social comprovadamente aplicada pelas igrejas cristãs evangélicas, é na prática o exercício de sua função de dedicar-se ao ser humano, notadamente nesse segmento de drogadição, onde muitas vezes, as famílias não tem mais o que fazer e por outro lado o dependente se vê aprisionado pelo sistema que faz dele um consumidor continuo e um doente, que somente uma atenção especial pode vislumbrar a cura e a reinserção do mesmo na sociedade. Não é uma tarefa fácil, portanto, pessoas dedicadas e capazes são ferramentas importantes neste desafio.
Cremos que a milhares de igrejas espalhadas pela capital e grande são Paulo, com sua estrutura de locais e prédios, podem contribuir para este grandioso desafio que é de todos, e, basta haver vontade política e mais sentimento humano para a questão de Justiça Social, para os menos favorecidos.
Autoria de:
Pr. Dr. Elias Cardoso
Pastor Presidente das Assembleias de Deus Ministério de Perus
Gustavo Felicio
Coordenador da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Nicastri, Sérgio. Drogas: classificação e efeitos no organismo (2006). Disponível em: file:///C:/Users/Antonio%20Oliveira/Downloads/Unidade%201-%20Drogas%20classificacao%20e%20efeitos%20no%20organismo.pdf. Acesso em 04/07/2017 às 20:00h.