A sombra de Martin Luther King na campanha eleitoral americana
Martin Luther King era um pastor. Como um bom pastor, prezava por suas ovelhas. Seu sonho era que suas ovelhas tivessem direitos iguais às demais. Ovelhas que sofreram durante anos com a amarga sombra preconceituosa do apparteid americano. Queria livrá-las do ódio. Sempre procurava levar sua vida de acordo com os ensinamentos da Bíblia. Líder espiritual e político, nunca cansou de lutar pela igualdade de direitos civis, sobretudo de negros e mulheres americanos. Seu legado histórico influenciou figuras importantes como Nelson Mandela e o presidenciável democrata Barack Obama.
Quatro de abril de 1968. Memphis (Tennessee), 18h00. Há exatos 40 anos, a bala disparada pelo revólver de James Earl Ray acertara o pescoço de Luther King. Zumbi que me perdoe, mas surgia então, o primeiro mártir negro das Américas. Seu funeral foi acompanhado por milhares de pessoas cuja esperança de mudanças estavam sobre o ombro daquele cidadão.
Quarenta anos depois, um jovem senador negro se torna o principal porta voz do I have a dream contemporâneo ao declarar abertamente suas idéias ligadas ao discurso de igualdade racial americano que há muitos anos vem causando grande polêmica. Os americanos querem mudanças. O país sofre com a crise econômica, com a guerra no Iraque e com o sistema de saúde. Pior que isso, agonizam uma grave crise moral.
Barack Obama se converteu ainda adulto na Igreja Unida de Cristo. John McCain cresceu na igreja episcopal e hoje é membro da igreja batista em Phoenix. Hillary Clinton é metodista como Bush. Obama não é Bush. Enquanto Bush é visto como uma das figuras mais controversas na política americana, Obama emociona os evangélicos quando conta seu testemunho de conversão, ainda adulto.
Historicamente, o voto dos evangélicos tem um peso importante nas eleições. Nos EUA, política e religião andam de mãos dadas, quase se esbarrando uma na outra. A verdade é que o assunto se tornou um tabu nas diversas áreas da sociedade. Luther King era pastor e ativista. Obama não é Luther King.
Obama está à frente de Clinton nas prévias estaduais. MacCain é republicano, conservador e tem apoio de da família Bush e de Nancy Regan. Os americanos não querem uma espécie de terceiro mandato de Bush.
Obama pode se tornar o primeiro presidente negro dos Estados Unidos da América. Quem diria! O sonho do Dr. Luther King está prestes a se tornar realidade.
Fonte: Le Figaro, 4 de abril de 2008.